Para quem não sabe, em Maçores celebra-se o S. Martinho, que é o Orago da freguesia. Esta festa, que se realiza a 11 de Novembro, tem uma das tradições mais simpáticas deste país, pois não conheço lugar algum, onde o convivio seja tão manifestado.
Esta tradição assenta no seguinte:
- O GAITEIRO -O gaiteiro, é uma pessoa que toca gaita de foles. Então, na manhã do dia 11 de Novembro, está à entrada da aldeia, um grupo de homens que aguarda a sua chegada e a anúncia com fogo de artificio, afim de transmitir à restante população.
Após a recepção e familiarizado o gaiteiro, vão-lhe ser ensinadas as cantigas da aldeia. Caso o gaiteiro já cá estivesse em anos anteriores, pois esta lição nada mais é mais do que uma recapitulação, onde numa simples volta a recordará. Mas o pior, é quando o gaiteiro é novo, que nunca ouviu as musicas da terra. Este mais esforço e empenho requer para aprender. Então os homens presentes, cantam as cantigas do S. Martinho para afinar e levar ao compasso desejado o artista.
-O CORO -O coro, assim por mim designado, é um grupo de homens,expontâneo, não constituido anteriormente, normalmente homens de Maçores, que sabem, as musicas da festa e que ao som da gaita de foles, entoam os hinos locais, em vozes graves, em compasso lento, arrastado e em muitas vezes, descoordenado.
O coro, acompanha quase sempre o gaiteiro, sendo excepção a procissão, e a caldeira pelas ruas da freguesia. Neste coro, não existe um minimo nem máximo de elementos, participando nele, todos quantos queiram acompanhar a caldeira e o gaiteiro.
-A CALDEIRA-
A caldeira é um recepiente metálico, de forma cilindrica estanque e construído de material zincado. Tem uma asa ou alça metálica, fixa e arredondada. É usada frequentemente, nos meios rurais com o objectivo de cozer os alimentos (nabiças, nabos, batatas,) para o gado muar e asinino.
Em Maçores, a caldeira vai ser um objecto fundamental nas festas de S. Martinho, porque nela é que irá ser depositado esse liquido que neste dia se prova, como diz o velho ditado: " No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o vinho."
- O ENCHER E O BEBER DA CALDEIRA-Como já se referiu, a caldeira vai ser o contentor do vinho. Então, dois homens, com a ajuda de um pau ou vara, segurando cada um nas estrimidades, vão colocar a vara de madeira, pelo interior da alça e transporta-la pelas artérias da aldeia, enquanto que seguem á sua rectaguarda, o coro de homens e o gaiteiro.
Pronta então esta formação, dá-se inicio ao enchimento da caldeira. Assim, este grupo, desloca-se pela aldeia fora, com a finalidade de encher a caldeira nas adegas dos produtores de vinho locais, que pouco a pouco, a vão atestando. Sempre nestas deslocações, a caldeira é acompanhada pelo coro e pelo gaiteiro.
Engraçada é, a forma de como se deve beber, segundo a tradição, pela caldeira. Então, a caldeira é colocada no solo. O que nela for beber, terá de colocar os joelhos no chão e inclinar-se sobre ela, introduzindo no interior do aro superior a cabeça e no cimo do vinho os lábios e pelo método da sucção, aspira o liquido. Desta forma, e como se diz por cá, "beba, que não beba, mergulhar, vai ter que mergulhar".Quer isto dizer, que pelo menos, tem que por os lábios no vinho.
- O MAGUSTO-O magusto realiza-se depois da eucaristia e da procissão. As pessoas que querem participar reunem-se, normalmente no Lugar da Eiras, por ser um espaço tranquilo, óptimo para este tipo de convívio. Então são trazidas as castanhas e a palha que servirá para as assar. Esta última é espalhada no chão e as castanhas espalhadas sobre a palha. Incendeia-se e começa-se o assar das castanhas.
Logo que as primeiras castanhas estejam assadas, os participantes, aproximam-se do extinta fogueira e retiram-nas, consumindo-as em livre associação e feliz convivio entre todos até que se acabem as castanhas, fazendo, portanto, mais fogeiras. Durante o magusto, está presente a caldeira e o gaiteiro. A caldeira, desta vez, está colocada no chão, disponivel para qualquer pessoa que queira beber. O gaiteiro, toca as musicas que conhece, tendo que, mais frequentemente, tocar as musicas do S. Martinho, acompanhadas pelos homens que formam o coro.
Assim que haja cinzas resultantes da queima da palha, as pessoas, sujam propositadamente as mãos, de modo a ficarem negras, para depois, as irem a esfregar nas caras das pessoas que estão presentes. Ora, com isto, levamos a um convivio, onde todas as pessoas estão de igual, com as caras sujas do carvão, levando-as a designar por já terem a cara "enfarruscada" ou "enfurretada".
Por fim e para aquelas pessoas que não puderam estar presentes no magusto, assam-se castanhas, que depois são introduzidas em sacos e os homens transportam-os ao ombro, pelas ruas de Maçores e que vão distribuindo e dividindo pelas pessoas que se abeirarem. Recordo, mesmo nesta distribuição, a caldeira e o gaiteiro estão presentes, podendo desta maneira, as pessoas que não fossem ao magusto, ver a caldeira e ouvir as nossas melodias ao som da gaita de foles e do coro masculino.
Se me esqueci de alguma coisa, queiram pois, acrescentar.....